28 dezembro 2008

Relato sobre o World Shoot XV

Amigos Atiradores,

Como um dos atiradores que foi ao mundial e ainda tendo sito também um dos integrantes da organização da prova (fui o Stats Director), gostaria de compartilhar com vocês parte desta experiência.

Primeiramente gostaria de agradecer à Federação Paulista de Tiro Prático que ajudou todos os atletas paulistas que foram ao mundial com R$ 1000 e à Confederação Paulista que ajudou todos os confederados com o pagamento da inscrição (US$ 450) e mais US$ 500. Isto ajudou bastante na redução das despesas que, só de passagem, chegou a mais de US$ 2000!

Falando em passagem, chegar lá é uma verdadeira peregrinação. Foram 24 horas dentro de avião e, somando as esperas entre um vôo e outro (foram 3 vôos, sendo que o último ainda fazia uma escala de 1 hora), entre sair do primeiro aeroporto e chegar no último, foram mais de 36 horas. Somem isto a uma diferença de fuso horário de 11 horas e vocês vão ver como é cansativo chegar lá...

Chegando lá fomos recebidos logo na saída do finger pelo pessoal da organização que já estava com nossos nomes e tudo certo pra nossa chegada. Depois de esperar um pouco pelo pessoal da companhia aérea pra liberar nossas armas (eles não sabiam bem o que fazer, uma vez que armas são proibidas na Indonésia, sendo que as nossas seriam excessões), deixamos nossas armas com a polícia local que as levaria ao hotel.

Em Bali, ficamos na cidade de Kuta que é a cidade onde ficam a maioria dos hoteis de Bali e é o lugar mais turístico da ilha. A cidade de Kuta em si não é muito grande, mas é cercada de outras cidades e, assim como a grande São Paulo, não dá pra saber onde uma cidade começa e outra acaba.

A cidade é bem movimentada, com muitos turistas, principalmente australianos, devido à proximidade. Mas encontra-se de tudo: americanos, europeus, japoneses de monte, árabes, russos, etc... E com a presença dos atiradores do mundial (mais de 1000, fora os acompanhantes), tem gente de todos os cantos da terra.

O povo de Bali é muito alegre, simpático e hospitaleiro. Na ilha, ao contrário do resto da Indonésia que é de maioria muçulmana, o povo é 98% hindu, com forte influência budista, o que faz com que o povo não tenha tantos travamentos por causa da religião. A não ser nas cerimônias nos templos que acontecem apenas em dias de lua cheia, nova e no dia do aniversário do templo, não existe vestimenta ou cerimônia obrigatória. A única coisa curiosa é que em todos os lugares comerciais, seja em loja, escritório, até mesmo em taxis, eles fazem pequenas cestas de folha com "oferendas" dentro: comida, moedas, dinheiro, balas, etc... com o intuito de trazer sorte e prosperidade. As calçadas e os pequenos templos ficam cheios destas oferendas.

Eu e o Luis chegamos bem antes dos outros atiradores, uma vez que, além de cuidar do stats office da competição, ainda íamos atirar no pré-match. Depois de uns 2 dias de folga (que serviram mais pra se ajustar o fuso e pra descansar da viagem), já começamos a trabalhar preparando todas as súmulas do pré-match. Assim como fizemos no europeu, todas as súmulas ficavam na ordem de tiro em envelopes separados por squad e pista, o que facilita a organização do squad e agiliza muito a prova para os ROs que tem uma carga bem pesada nestas grandes competições.

No dia anterior ao pré-match fomos ao stand pela primeira vez pra ver nosso escritório, ver se todos os micros estavam ligados, configurar tudo e deixar tudo pronto pros ROs do pré-match. Neste dia eu e o Luis decidimos tentar fazer uma cobertura diária do mundial via youtube (apelidado de TV Dinâmico por causa do site tirodinamico) e gravamos nosso primeiro vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=eqfFwydljhg) (todos os vídeos podem ser vistos em (http://www.youtube.com/gpambrozio)

Foram 3 dias de pré-match, atirando 12 pistas por dia (ao contrário do main match onde os competidores atiravam 6 pistas em 6 dias) em um sol infernal, com temperatura alta e, pra piorar, uma humidade também absurda. E pra piorar o Luis ainda tomou um DQ no segundo dia por disparo acidental ao descarregar a arma que não estava nos planos. Como todo pré-match, ainda mais de grandes competições, houveram contratempos, como mudanças de briefing (o que fez com que alguns squads tivessem que reshootar uma pista), mudanças de pista (o Dino, presidente da IPSC, ajudado pelo Alain Jolly da França, estava no primeiro dia de pré-match ainda acertando as pistas que atiraríamos no segundo dia e no segundo as pistas do terceiro), etc... Mas correu tudo bem e na sexta-feira estávamos todos exaustos principalmente por causa do calor e da humidade.

No sábado eu, o Luis e o resto do staff do stats (éramos em mais de 10 ao todos) ainda tivemos que ir pro stand pra preparar todos os envelopes e súmulas para o primeiro dia da competição que começava na segunda-feira. Terminamos cedo e tivemos um tempo pra descansar e fazer umas comprinhas em Kuta que tem muita roupa barata.

Domingo à tarde tivemos a cerimônia de abertura, com a apresentação de todas as delegações, discursos do Nick Alexakos, de algumas autoridades locais e com várias apresentações de dança, música e um tipo de teatro que mostra cenas da "mitologia" local. Como neste caso um vídeo explica bem mais que palavras, sugiro a edição do TV Dinâmico sobre a cerimônia de abertura: http://www.youtube.com/watch?v=jioQu5NYJC8

O primeiro dia de prova começou com mal com um acontecimento até então inédito desde a nossa chegada: chuva, muita chuva. A chuva parou lá pelas 8, mas isto atrasou muito o início da prova e, consequentemente, a prova toda neste dia. Acho que poucos ROs de pista almoçaram fora da pista neste dia e alguns squads tiveram que terminar a última pista no dia seguinte. Mas fora isto, tudo correu bem. Neste dia saímos do stand já escuro, lá pelas 8 horas. A cobertura deste dia, com uma visão muito interessante de todas as pistas está na 10a edição do TV Dinâmico: http://www.youtube.com/watch?v=YWvE9sdl2no

Os outros dias de competição correram bem melhor, com os ROs se acostumando com o calor e com o grande número de competidores. No segundo dia os atrasos foram compensados e tudo entrou nos eixos novamente. Neste dia já conseguimos sair do stand antes das 7 da noite e, a partir daí, saímos sempre mais cedo. No quinto dia de prova conseguimos sair ainda com luz do dia! Só no último dia saímos mais tarde, pois precisávamos fazer o fechamento da prova e conferir um monte de coisas pra evitar surpresas de verificação de súmula no dia seguinte. Em todos os dias fizemos vídeos com entrevistas rápidas que ficaram muito legais. E em todos os dias o resultado era divulgado no meu site (www.xtremeshooting.com.br) logo depois do almoço e logo depois de saírmos do stand.

Domingo foi o shoot-off e ainda precisamos ir pro stand pra entregar os verifies (se bem que acho que só um ou dois atiradores foram pegar, o resto já viu na internet à noite) e pra esperar qualquer reclamação. No shoot-off uma surpresa: uma vez que não fizeram a final do shoot-off melhor de três, o Eric perdeu pro Saul Kirsch por causa de um popper que ele errou... Nunca tinha visto ele perder um shoot-off, desde o mundial do Equador.

A cerimônia de premiação foi muito legal também, com uma festa à beira da praia com comida e bebida quase na faixa (depois de uma certa hora precisávamos pagar pelas cervejas). Depois das homenagens que o Nick sempre faz pros atiradores mais velhos e mais novos do campeonato e da homenagem póstuma feita a um RO da Austrália que foi enterrado com o uniforme da IROA inclusive, fico orgulhoso de dizer que eu e o Luis recebemos mais uma vez a medalha presidencial pelo serviço prestado à prova. Já é o terceiro grande campeonato que a gente faz e a terceira vez que recebemos a homenagem. Vale dizer que só nós e o Range Master da prova receberam esta homenagem.

Depois das homenagens começou a entrega de prêmios, intercaladas de vez em quando por danças típicas de Bali e um pouco de música pra dar uma quebrada na entrega que às vezes fica meio cansativa mesmo.

Alguns brazucas tiveram a honra de subir no palco pra receber seus prêmios: O Lucimar ficou em 2o lugar na Standard Senior, o Antonio Vaghi ficou em 2o lugar na Standard Super Senior e o time de Standard Senior ficou em primeiro lugar! Parabéns a todos! Mais uma vez o link pra última edição do TV Dinâmico com a premiação: http://www.youtube.com/watch?v=sY4Uz5SNHhg

Bom, acho que é isto. Pra mim foi uma grande experiência, conhecer e rever gente do mundo todo, todos ligados a um esporte que, apesar de ser visto como violento, de violência nada tem. Fiz e revi muitos amigos e espero ansiosamente poder trabalhar em outra prova grande. Apesar do trabalho intenso e das despesas, é muito legal poder trabalhar como RO nestas provas, principalmente pelo reconhecimento do trabalho bem feito que a gente sempre recebe, não só da organização, como também de vários competidores.

Abs e até a próxima,
Gustavo Ambrozio

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